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O Melhor do Meu Dia XXII

Hoje a minha reflexão do melhor do meu dia é sobre a pior parte, porque nem todos os dias são rosas e acima de tudo não temos a obrigação de por de lado as coisas menos boas, às vezes é preciso que elas sejam expostas, mesmo que se trate de um desabafo antigo.

Hoje é dia do Pai. Eu nasci sem pai. A minha mãe foi mãe e pai - assim de repente isto parece um cliché barato por isso como se diz vou "tratar os bois pelos nomes".

Hoje é dia do Pai. Não me diz nada porque o meu pai nos abandonou, um casting falhado que valeu à minha mãe o Óscar de Melhor (nas categorias mãe e pai).
Não quero que isto seja um texto de lamentos, muito pelo contrário quero dizer tudo o que não consegui verbalizar até hoje, tudo o que fez de mim mais fria e desconfiada. - Antes de continuar quero afirmar que tive uma infância feliz, que a minha vida apesar de tudo é boa, mas como em tudo há sempre o lado menos bom da história...

Na minha família houve sempre comunicação, no geral, mas lembro-me de ser a minha mãe a pioneira daquelas conversas que as crianças não devem ouvir, ela sempre foi a favor da verdade, mesmo que esta nos custe e ainda o é, claro que só uns anos mais tarde é que vim a perceber muitas coisas, mas francamente o facto de ter uma mãe honesta em tudo, quando digo tudo é tudo "se tiveres negativas é um problema que vais ter de resolver", "as pessoas morrem a vida é assim" ou "dou-te toda a liberdade que queres, só acaba se pisares o risco", "podes contar comigo para tudo, não tenhas problemas com isso", ajudou-me a não complicar as coisas.

Pode não ser fisicamente afectuosa, mas está lá sempre. Não nos abandonou ao primeiro obstáculo. 
Obrigada mãe.

Ao meu pai, aquele que nos abandonou um dia, (porque o que realmente foi pai foi um presente que a vida nos deu e com ele trouxe mais uma irmã a única porque não interessa o nome, nem o sangue. De sangue tenho só uma.) peço que meta a mão na consciência e que repense, não o que nos fez, mas o simples facto de voltar e achar que tem direitos sobre o que quer que seja.

Quando tive febre onde estavas? Quando só via a mãe de manhã ou um dia depois, e estava no meu quarto com medo que ela também não volta-se - sim porque tu a única coisa que me deixas-te foi um apelido, um dna falido e um medo que mais alguém fosse cobarde como tu foste e não volta-se para mim.- Quando tive a primeira negativa ou precisei de ajuda na escola, onde estavas? Quando o meu irmão se magoou aos três anos na cabeça, onde estavas?

Não consegues dizer? Eu digo, não estavas, estava a mãe, as tias, os tios e toda uma rede que fez de nós seres humanos íntegros e com os melhores valores, fazendo de nós pessoas felizes e realizadas.

Agora já crescidos, não és nada para nós, és um estranho e depois deste post vou sentir-me livre destes pensamentos de que me possa vir a calhar um pai aos meus filhos como tu. Não vai a vida não se engana duas vezes...
Para o dia do pai e se por acaso vieres a ler isto, fica onde estás, não fazes falta e não tens direito nenhum de entrar nas nossas vidas achando que o arrependimento te vai levar a uma conciliação.
Ah! só mais uma coisa, deixas-te também uma incapacidade gigante de não saber perdoar.

Feliz dia do Pai, à nossa mãe e a todos os que desempenharam esse papel a ambos, para que nada nos faltá-se.

Sejam felizes, todos aqueles pais, que o sabem ser.


(...)


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