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Gerações passadas, (Des)Tratadas


Falando dos cuidados de saúde em idosos, são cada vez maiores as filas nos hospitais, a falta de camas para acolher doentes já com alguma idade, e isto acontece por duas razões, porque o pais atravessa uma crise económica que não lhe permite cobrir essas necessidades e a outra razão, é pelo facto de todos aqueles idosos que são bem tratados, são cada vez mais escassos, é cada vez mais escassa a qualidade num lar de idosos, por exemplo, pois as pessoas não trabalham com o intuito de ajudar o próximo, ajudar quem precisa, mas sim, trabalham simplesmente porque ganham algum dinheiro, tudo bem que o dinheiro é um bem cada vez mais necessário nos dias que correm, mas será que  as pessoas que não dão afecto e cuidados a quem precisa da forma que  merecem, se apercebem do mal que estão a fazer, se apercebem a falta que faz a um idoso sentir-se útil e sentir que a sua presença não e meramente por ser mais um habitante na estatística, mas sim que a sua presença e necessária pelo simples facto de ser um ser que já aprendeu muita coisa, que já viveu muita coisa. A falta de cuidados faz com que cada vez haja mais idosos a morrer.
Muitas são as vezes que um idoso morre sozinho em casa, quando vejo essas noticias pergunto-me ‘será que as pessoas tem noção do que fazem, ao deixarem um pai ou avô sozinho?’, acho muito desagradável quem abandona um idoso, essa pessoa simplesmente se esquece,  que antes também foi cuidada por essa pessoa que agora deixa para trás, não devemos deixa que a falta de dinheiro passe por cima de qualquer valor, valores esses que nos foram transmitidos por uma geração sábia que hoje simplesmente por não sabermos como dar continuidade ás suas vidas os deixamos para trás, sem qualquer explicação. ‘É fácil livrar-nos de um fardo’ e deixar-mos esse que achamos ser um ‘fardo’ na nossa vida, na companhia de uma sala vazia, repleta de recordações, vivências e experiências, sala essa onde só se encontra uma só coisa, a solidão. São cada vez mais os velhotes que vão aos hospitais simplesmente para falar de coisas que ninguém nunca quer ouvir, é mais fácil deixar um pai ou um avô com um profissional do que tratar dele, para muita gente é assim, mas as pessoas não têm a mínima noção do que é viver na solidão, não sabem o que é acordar e não ter com quem partilhar os sonhos, não sabem o quanto é difícil para um idoso gerir uma doença e ao mesmo aperceber-se que é um fardo na vida os seus familiares e por essa razão muitos são os idosos que preferem o conforto de um lar, por muito poucas condições que tenham, ao conforto do seio familiar, pela simples razão de acharem que não passam de um incomodo na vida daqueles que um dia foram a sua prioridade.
Penso que este tipo de tratamento nem deveria existir, pois um dia seremos nós no lugar daqueles que hoje deixamos para trás e não queremos de todo, que quando chegar-mos a esta idade nos deixem sem amparo, sem carinho, eu pelo menos espero chegar a esta idade e poder ser útil e espero nunca ter de compartilhar o meu tempo com a solidão. Estamos inseridos numa sociedade cada vez menos humana, cada vez mais as pessoas só olham para o seu umbigo, só pensam em si, sem olhar para o que os rodeia, sem verem que ao lado na paragem do autocarro a pessoa que está consecutivamente a relatar a sua vida, simplesmente sente necessidade de desabafar, sente falta de companhia, requer muita atenção e paciência.

Amadora, 25 de Março de 2012